Atualmente, diversos estudos afirmam que o desenvolvimento neurossensorial do ser humano está intimamente ligado às suas faculdades sensíveis e motoras. Sendo assim, cada atividade motora auxilia no desenvolvimento neurológico da criança na fase fisiológica específica na qual ela se encontra.
Em sintonia com essa premissa, as crianças e jovens que estudam em uma escola Waldorf têm acesso a um diversificado currículo de trabalhos manuais, dentre eles o tricô, o crochê, a costura, a cestaria e a fiação.
“Não é suficiente considerar, nos trabalhos manuais, apenas o aspecto da habilidade manual orientada por uma atividade apropriada. Colocadas entre a cabeça e os pés, as mãos causam, pelos movimentos repetidos ritmicamente e exercícios adequados à idade, um fortalecimento do querer e de um pensar lógico, onde o cultivo das emoções forma a transição. Essa afirmação requer o seguinte comentário: o treinamento da motricidade fina é de suma importância para o desenvolvimento da inteligência infantil. J. Piaget constata que as operações mentais que o homem realiza só funcionam, quer dizer, só produzem pensamentos em vez de meras ligações de palavras, quando elas são preparadas por ações no sentido estrito da palavra. As operações lógicas (inclusive a dedução, o julgamento e a compreensão) nada são senão o resultado da interiorização e da coordenação dos atos.” (RICHTER, Tobias, 1995).
Atividades como o tricô e o crochê, trabalhadas com as crianças da Escola Miguel Arcanjo, contribuem para o desenvolvimento integral das crianças:
“Por um lado, o tricô forma a consciência e a habilidade das duas mãos, de outro, desperta e desenvolve as capacidades espirituais da criança. (...) Depois de um treino suficiente das duas mãos pelo tricotar, começa o crochê. A alternância entre pontos correntes, retos e baixos, fechados e abertos atua de forma harmonizadora sobre o temperamento da criança.” (Idem)
Tanto o tricô quanto o crochê são trabalhados por meio de sequências educativas que incluem: contação de histórias por meio das quais são apresentadas as matérias-primas e/ou as situações em que é necessário tecer; contato com as matérias-primas (lã natural, fio de lã, algodão natural, fio de algodão) e com os processos de fabricação dos fios (cardação, tingimento, fiação); aprendizagem das técnicas de tricô e crochê; confecção de peças artesanais.
É comum que, quando se inicia o trabalho, as mãozinhas ainda não estejam acordadas e as crianças demonstrem dificuldades em afirmar sua força de vontade na construção de algo.
Porém, ao longo das construções realizadas nas etapas posteriores, podemos observar com grande alegria o desenvolvimento construtivo das crianças, expresso tanto no desenvolvimento de atitudes de concentração, empenho, colaboração com o grupo, quanto, concretamente, nos lindos animais de tricô e crochê que confeccionam.